Um conto de Paulo Coelho











 
   O mosteiro pode acabar, um conto de Paulo Coelho que me fez pensar...

"O mosteiro atravessava tempos difíceis, o mundo havia mudado: afirmavam que Deus era apenas superstição, a Igreja estava cheia de problemas, e os jovens já não queriam mais ser noviços. Uns foram estudar sociologia, outros passaram a ler tratados de materialismo histórico, e pouco a pouco a pequena comunidade que restou foi se dando conta que seria necessário fechar o convento.
Os antigos monges foram morrendo. Quando o último deles estava pronto para entregar sua alma ao Senhor, chamou ao seu leito de morte um dos poucos noviços que restavam.
- Tive uma revelação – disse. – Este mosteiro foi escolhido para algo muito importante.
- Que pena – respondeu o noviço. – Porque só restam cinco rapazes, e não podemos dar conta de todas as tarefas, quanto mais de uma coisa importante...
- É uma pena mesmo. Porque, aqui no meu leito de morte, um anjo apareceu, e eu entendi que um de vocês cinco estava destinado a tornar-se um santo.
Disse isto, e expirou.
Durante o enterro, os rapazes olhavam-se entre si, espantados. Quem teria sido o escolhido: aquele que mais ajudava os habitantes da aldeia? O que costumava rezar com uma devoção especial? Ou o que pregava com tal entusiasmo que os outros se sentiam à beira das lágrimas?
Compenetrados pela presença de um santo entre eles, os noviços resolveram adiar um pouco a extinção do convento, e passaram a trabalhar duro, pregar com entusiasmo, reformar as paredes caídas, praticar a caridade e o amor.
Certo dia, um rapaz apareceu na porta do convento: estava impressionado com o trabalho dos cinco rapazes, e queria ajudá-los. Não demorou uma semana, outro jovem fez o mesmo. Aos poucos, o exemplo dos noviços correu a região.
- Os olhos deles brilham – dizia um filho ao seu pai, pedindo para entrar para o mosteiro.
- Eles fazem as coisas com amor – comentava um pai com seu filho. – Vê como o mosteiro está mais belo do que nunca?
Dez anos depois, já havia mais de oitenta noviços. Nunca se soube se o comentário do velho monge era verdadeiro, ou se ele tinha encontrado uma fórmula para fazer com que o entusiasmo devolvesse ao mosteiro a sua dignidade perdida".

- Tira as tuas conclusões e se quiseres partilha-as...

Senhor, necessito…



Senhor, necessito que me laves os pés...
Hoje, detenho-me a olhar o teu gesto,
determinado e sem preconceitos.
“Como Eu vos fiz, fazei-o vós também…”
Como viver? Como acolher? Como escutar?...

Sinto-me com tantas coisas… lava-me Senhor!
Nada mais… sei que me conheces,
Sabes o que não Te sei dizer…
Preciso que me olhes por dentro,
Me acolhas com a ternura da compreensão,
Me estendas Tua mão…

Sabes melhor que eu mesma do que necessito!
preciso silenciar a minha vida,
os meus medos, as minhas paixões…
Ensina-me o dom do silêncio, fecundo,
esse que em Ti e Contigo,
adquire o novo sentido, o da entrega!

Necessito e desejo esvaziar-me,
de mim mesma, ser oferta!
Ensina-me o dom da sensatez,
enche-me de Ti, porque só de Ti preciso…
Lava-me, purifica-me… ajuda-me!

Necessito fazer desabrochar no meu coração
um amor que viva e se alimente da Tua presença…
viva segura nas Tuas mãos de Pai e Amigo,
cujo abraço dura para sempre!


«Busco a doçura profunda,
a que nunca ninguém viu,
e cuja existência não pode ser posta em causa,
pois é a ela que devemos a beleza perfumada dos jacintos, 
a luz nos olhos espantados dos animais 
e tudo o que, sobre a terra e nos livros, o que há de bom.»
Christian Bobin

A alegria, um belo segredo!

A alegria que provém da compaixão é um dos segredos mais bem guardados da humanidade. É um segredo só conhecido de muito poucas pessoas, um segredo a descobrir continuamente. Eu, pessoalmente, tive umas «amostras» dela. Quando vim para Daybreak, uma comunidade com pessoas com deficiências mentais, pediram-me para passar algumas horas com Adam, um dos membros deficientes da comunidade. Todas as manhãs, tinha que o levantar da cama, dar-lhe banho, barbeá-lo, escovar-lhe os dentes, dar-lhe o pequeno-almoço e levá-lo para o lugar onde ele passa todo o seu dia. Durante as primeiras semanas, quase tive medo, sempre preocupado com não fazer nada mal ou com que ele tivesse algum ataque epiléptico. Mas, pouco a pouco, fui ficando mais calmo e comecei a apreciar a nossa rotina diária. Com o passar das semanas, descobri que já era com ansiedade que esperava por aquelas duas horas que passava com o Adam. Sempre que pensava nele durante o dia, experimentava um sentimento de gratidão por o considerar meu amigo. Embora ele não fosse capaz de falar e nem sequer de fazer um sinal de agradecimento, havia um autêntico amor entre nós. O meu tempo com Adam tornara-se o tempo mais precioso do dia. Quando uma visita amiga me perguntou um dia: «Não poderias passar melhor o tempo que a trabalhar com um homem deficiente? Foi para fazer esse tipo de trabalho que tiraste o teu curso?», compreendi que não era capaz de lhe explicar a alegria que o Adam me trazia. Ele tinha que descobrir isso por si mesmo. A alegria é o dom secreto da compaixão. Continuamos a esquecer-nos disso e inconscientemente procuramo-la em outros lugares. Mas, cada vez que voltamos para onde existe a dor, conseguimos uma nova «amostra» de alegria que não é deste mundo.
Henri Nouwen, Aqui e Agora