Dá-me um tempo














"Tu pequena pessoa, foge um pouco do teu activismo! Esconde-te por um curto momento dos pensamentos determinantes. Livra-te das preocupações que te incomodam e desiste daquilo que te dispersa. Toma um tempo para ti em Deus e repousa nele! Fala a Deus: "Eu busco a tua presença, Senhor" (sl 27,8). Meu Senhor e meu Deus, ensina o meu coração onde e como procurar-te, onde e como encontrar-te"

Sto Anselmo


Quando contemplo...














Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocaste: "Que é o homem para que vos lembreis dele? O filho do homem para dele vos ocupardes?" (SL 8).













Hoje, quero contemplar…

Ficar Contigo a sós, no silêncio

do meu ser, estar e me encontrar…

Vou contemplar, em Ti, ficar!

Teu olhar de esperança…

Sobre mim, tua graça e bondade,

São apelo de vida, na intimidade,

A entrar no seio da Trindade!

Vida nova, em Ti mergulho…

“Meu Senhor e meu Deus”!

Beleza “tão antiga e sempre nova”

Teu Ser me inunda e renova!

Quero agradecer-te o dom da vida,

Teu olhar de ternura, sobre mim…

Tua imensa misericórdia, sem fim…

Me desafia a louvar-Te, no meu SIM!

Um novo coração














Um novo coração me dá, Senhor,

O qual a Ti só tema, a Ti só ame,

A Ti, meu Deus, meu Pai, meu Redentor.


Por Ti suspire sempre, por Ti chame,

Por Ti me negue a mim e tudo negue,

Por Ti saudosas lágrimas derrame.


A Ti busque, a Ti ache, a Ti me entregue,

Com tão intenso amor, com tal vontade,

Que nunca mais de Ti me desapegue.


Ó bom Jesus, por tua piedade,

Não Te escondas de mim, isto Te peço;

Que sem Ti tudo enfim é só vaidade.


Muito pedi, Senhor, pouco mereço;

Tão pouco que Te não mereço nada,

Se o Teu muito ao meu nada não dá preço.


Esta alma tantas vezes desviada

Do caminho do Céu, Tu encaminha;

Que se por Ti não vai, vai muito errada,

Doce Jesus, doce esperança minha.











Hino da Liturgia das Horas

Quaresma 2010













A Quaresma é o tempo privilegiado

para de novo tomarmos consciência
da loucura do Amor de Deus por cada um de
nós...
e, assim de forma renovada
mergulharmos
no grande mistério da nossa Salvação!

É um tempo especial de encontro, comigo,

com os outros e com Deus.

Não é fácil fazer encontro...

É fácil estar ali, lado a lado,

juntos em qualquer lugar, diante de alguém.

Mas não é fácil fazer encontro...

Porque fazer encontro

implica colocar-se na presença do Outro,

entrar na sua vida, na sua história, no seu coração...

Implica deixar-se encontrar!...

deixar o Outro entrar na minha vida,

na minha história, no meu coração...

Mais, deixar que Ele viva em mim!


O Outro, o totalmente Outro é DEUS!...

... desejo-te uma boa Quaresma


Ele ama-nos incondicionalmente















Hoje enquanto viajava por terra e ar,

dei comigo a contemplar o amor de Deus
para connosco
muito bem expresso
no hino de S. Paulo aos Efésios...

"Bendito seja Deus,
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo

que do alto do Céu nos abençoou

com todas as bênçãos espirituais em Cristo.

Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,

para sermos santos e irrepreensíveis,

em caridade, na sua presença.

Ele nos predestinou, de sua livre vontade,

para sermos seus filhos adoptivos, por Jesus
Cristo..." (Ef 1, 3ss)

Ele nos escolheu para sermos santos...
Desde sempre, eu sou objecto do seu amor!

"Eu te escolhi". Que sublime mistério!...

"... tu és meu filho muito amado..."

Deus, ama-nos antes de tudo.

Antes de qualquer mérito,

antes de qualquer prova,

antes de qualquer retribuição,

antes de qualquer feito heróico,

antes do nosso sim,
antes de tudo...
Esta experiência, desconcerta-nos!

Somos seres bem amados de Deus!

E só o amor de Deus é incondicional...


A nossa experiência de amor humano, é bem diferente.
É um amor sob condição.

O mundo diz-nos:
se queres ser amado,
prova que vales alguma coisa;

se queres ser estimado, reconhecido,

faz alguma coisa de significativo
e depois merecerás as estima,
o reconhecimento e a admiração
...
Estamos sempre a ser avaliados,

andamos sempre na corda bamba,

com medo, a correr de um lado para outro,

agitados, angustiados, cheios de cólera...

sempre em busca de pequenas felicidades,

e o tempo vai passando...
e este passar do tempo
é caminho
dos muitos vazios que nos inquietam...




















Os santos também viveram estas experiências.
Santo Agostinho, dizia: "
A minha alma anda inquieta,
anda sem descanso, anda angustiada
enquanto
não repousa no amor do Pai,
enquanto não repousa
nesta certeza de que é bem amado,
de que é
completamente querida por Deus..."

Fica-me um desafio, admirável: - façamos do amor de Deus
o centro da nossa vida. Descobre-te bem amado(a)
de Deus!
Esse é o maior tesouro que temos.

Somos amados, amadas de Deus!...

Aprendiz de viajante










Hoje sei que o viajante ideal é aquele que, no decorrer da vida, se despojou das coisas materiais e das tarefas quotidianas. Aprendeu a viver sem possuir nada, sem um modo de vida. Caminha, assim, com a leveza de quem abandonou tudo. Deixa o coração apaixonar-se pelas paisagens enquanto a alma, no puro sopro da madrugada, se recompõe das aflições da cidade.
A pouco e pouco, aprendi que nenhum viajante vê o que outros viajantes, ao passarem pelos mesmos lugares, vêem. O olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único, não se confunde com nenhum outro.
Viajar, se não cura a melancolia, pelo menos, purifica. Afasta o espírito do que é supérfluo e inútil; e o corpo reencontra a harmonia perdida - entre o homem e a terra.
O viajante aprendeu, assim, a cantar a terra, a noite e a luz, os astros, as águas e a treva, os peixes, os pássaros e as plantas. Aprendeu a nomear o mundo.
Separou com uma linha de água o que nele havia de sedentário daquilo que era nómada; sabe que o homem não foi feito para ficar quieto. A sedentarização empobrece-o, seca-lhe o sangue, mata-lhe a alma - estagna o pensamento.
Por tudo isto, o viajante escolheu o lado nómada da linha de água. Vive ali, e canta - sabendo que a vida não terá sido um abismo, se conseguir que o seu canto, ou estilhaços dele, o una de novo ao Universo.

Al Berto (1948-1997)