A
pergunta sobre o sofrimento nunca é porquê, mas para quê? A
pergunta não é como começou, mas como acaba, para onde vai. Aonde
é que nos leva? E pode haver alguma descodificação do sofrimento
se nos habituarmos a fazer a pergunta mais séria do ponto de vista
humano e espiritual: "Para onde vamos?" O sofrimento não
se explica com a ideia do castigo, explica-se por ser a interioridade
de um processo de transformação. É mais um "para quê?",
"o que é que podemos tirar daí?" Fazemos muitas vezes a
pergunta filosófica, buscando as causas, é o tal "porquê?"
Olhamos para trás quando devíamos olhar para a frente, para onde é
que leva ou para onde pode levar. Essa é a pergunta de quem se liga
ao Criador, mais espiritual, e sabe que o mundo não acabou. É mais
saudável perguntar pela finalidade do que pela origem! E se o
sofrimento é o avesso do amor e coincide com a história humana, se
a acompanha, só se pode perceber interrogando-o, caminhando com ele,
fortalecendo-nos nele. Resolvê-lo é que não se pode, como não se
pode resolver a vida, como não se pode resolver o amor. Mas pode-se
fazê-lo florescer, pode-se tirar partido.
A
perda de sentido gera sofrimento. Quando não se percebe porque é
que se vive ou para que é que se vive, há uma espécie de eclipse,
uma experiência da noite espiritual, que gera hoje tantas depressões
e stress, em que a pessoa não percebe o que está a acontecer. Aqui,
sim, posso ajudar o outro a encontrar o sentido da sua vida, o valor,
o para quê. Outra fonte de sofrimento é a desordem interior, a
perda de equilíbrio pessoal, que acontece de tantas maneiras quando
a pessoa perde a sua unidade e a continuidade da sua história,
quando desintegra aspectos da sua vida.
Vasco
P. Magalhães, sj
ONDE HÁ CRISE, HÁ ESPERANÇA
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