Um tempo de missão


Foi com algum entusiasmo que abracei o desafio de partir em missão para Angola, diocese do Sumbe. Foram apenas três meses que passaram muito rápido; mas, muito intensos nas vivências com aquele povo simples e humilde que nos acolhe sempre com um sorriso lindo e nos faz sentir em casa! O nome do grupo que integrei—Ondjoyetu—que em umbundo, a língua que se fala no Gungo, zona montanhosa da missão, significa ‘a nossa casa’ é de facto assim!... Senti-me bem e em casa, a fazer parte de uma grande família… e, com uma grande força interior para estar ali, força que me vinha da perceção da presença simples e amorosa de Deus, personificada na promessa que Jesus faz aos seus discípulos: «Sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28,20). Eu nunca estive só!…
Ser enviado em missão é de alguma forma despojar-se de si e de muitas coisas a que nos vamos apegando e apropriando, para ficarmos mais livres e disponíveis e assim acolher em cada dia e momento as surpresas que nos vão aparecendo e, que eu fui encarando como oportunidades de anúncio das boas notícias que Deus quer ser e fazer chegar a todos os homens!
Essa foi e é a graça que Deus no seu grande amor me quis fazer experimentar durante este tempo.
A minha missão, no Gungo, foi essencialmente estar, estar não de uma forma passiva; mas, de corpo e alma, dando sentido missionário… por onde passava, onde estava, com quem estava… Convivi de perto com crianças, jovens e adultos em encontros ocasionais e outros mais formais, integrados na caminhada cristã desta grande família que é o povo do Gungo. Um povo que mesmo sem palavras, mas com sorrisos, gestos e de muitas outras formas nos vai dizendo a cada momento: és bem-vinda, obrigada!... Walale —”olá”; Ndapandula —”obrigada”...
O missionário lá, percebemo-lo, é sinal e expressão da presença amorosa de Deus que vem para estar com o seu povo; é visto como enviado para fazer o bem, é querido e desejado. Por isso, a fé simples daquele povo que nos acolhe sempre em festa, não nos pode deixar indiferentes, antes nos interpela a um dar e receber com autenticidade, entrega e verdadeira alegria! – Isto experimenta-se lá, é vida que nos envolve e ao mesmo tempo se comunica porque, como diz o cântico, a “vida não vai parar, vai como o vento, tens tudo a dar, não percas tempo, podes saber que vais chegar, onde Deus te levar”!... É belo sim e gratificante, estar em missão!

Tudo o que vivi lá, foi muito mais… Partilhar o que não se vê ou não está documentado, não é fácil de descrever; mas fica para sempre gravado no coração… Fica também uma grande gratidão a todos aqueles e aquelas de quem Deus se serviu e através dos quais foi possível fazer estas ricas e variadas experiências para o bem comum. Assim, todos nos enriquecemos. Assim, se faz missão!...
Lembro aqui uma citação de Etty Hillesum «A grandeza do ser humano, a sua verdadeira riqueza, não está naquilo que se vê, mas naquilo que traz no coração.» - Venho com o coração cheio, a transbordar… o meu estar lá, foi também oração de intimidade com o Deus Trindade; especialmente nos momentos de admiração pela grandeza da criação. Momentos de admiração e louvor que me vinham da contemplação das paisagens montanhosas, belíssimas que me rodeavam no Gungo. Rezei, quando caminhava por entre aqueles vales e montanhas, desfrutei do silêncio como oportunidade a mergulhar, como quem mergulha no mar calmo e profundo para dele emergir cheia de paz, alegria, vida nova. Sempre vida, sempre nova… Onde pude assim, fortalecer a minha frágil fé, com todo aquele povo que ama a Deus, mesmo sem o saber, mas que Deus ama infinitamente!
Estamos juntos! Tukasi Kumosi!

   
     

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